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DANÇA: Simbolismo nas Artes Plásticas
DANÇA: Simbolismo nas Artes Plásticas

A dança é a arte de movimento humano, plástico-rítmica, abstrata ou expressiva, realizada individual ou coletivamente. É toda a moção que transcende em sua natureza a ordem humana e terrena. Toda dança é e proporciona êxtase.

Possui, a dança três aspectos: o dinâmico, o plástico e o rítmico, ou de movimento, o da composição de linhas e formas e o da medida em que esses movimentos e formas são executados no tempo. É uma arte de convenções e se manifesta por meio de um vocabulário tradicional ou improvisado. É produzida e limitada por seu instrumento: o corpo humano. Sua perfeição depende da harmonia entre seus elementos básicos e da técnica com que é executada. Seu ritmo lhe é imanente e próprio: ela, em sua essência, prescinde de acompanhamento musical – se bem que o utilize, desde o bater de palmas até as complexas orquestras. Kurt Sachs, em sua História Universal da Dança, diz: “A Dança é a Mãe das Artes. A música e a poesia existem no tempo; a pintura e a escultura no espaço. O criador e a criação, o artista e sua obra, nela são uma coisa única e idêntica. Os desenhos rítmicos do movimento, o sentido plástico do espaço, a representação animada de um mundo visto e imaginado, tudo isto é criado pelo homem com seu próprio corpo por meio da Dança, antes de utilizar a substância, a pedra e a palavra para destiná-las à manifestação de suas experiências exteriores”.

Na explanação sobre a presença e a natureza do simbolismo nas artes plásticas em relação aos símbolos sagrados: a pedra e o animal, diz Jung : “A animação da pedra é explicada como: a projeção de um conteúdo mais ou menos preciso do inconsciente sobre a pedra”.

“As mais interessantes figuras pintadas nas cavernas são as de seres semi-humanos disfarçados em animais, por vezes encontrados ao lado da imagem do animal verdadeiro. Na caverna de Trois Frères, na França, vê-se um homem envolto por uma pele de animal tocando uma flauta primitiva, como se quisesse enfeitiçar os bichos. Na mesma caverna existe a pintura de um ser humano quedança, com chifres de veado, cabeça de cavalo e patas de urso. Este personagem, dominando uma massa de algumas centenas de animais, é, sem dúvida, o ‘Rei os Animais’”.

“Um chefe primitivo não se disfarça apenas de animal; quando aparece nos ritos de iniciação inteiramente vestido com sua roupa de animal, ele é o animal. Mais ainda, é o espírito do animal, um demônio aterrador que pratica a circuncisão. Nestas ocasiões ela encarna ou representa o ancestral da tribo e do clã, portanto o próprio deus original. Representa e é o totem animal. Assim, não há engano em vermos figura do homem-animal que dança na caverna de Trois Frères uma espécie de chefe, transformado pelo disfarce em um animal demoníaco”.

“A dança, que originalmente nada mais era que um complemento do disfarce animal, com movimentos e gestos apropriados, foi provavelmente acrescentada à iniciação e a outros ritos. Era, a bem dizer, uma dança de demônios executada em homenagem a um demônio. Na argila macia da caverna Tuc d’Audubert, Herbert Kuhn encontrou sinais de pegadas ao redor das figuras de animais. Mostram que a dança fazia parte dos ritos da Idade Glacial. ‘Só se pode ver a marca dos calcanhares’, escreve Kühn. ‘Os dançarinos moviam-se como bisões. Teriam dançado uma dança de bisões para assegurar a fertilidade e a proliferação dos animais que matariam mais tarde”.

“O motivo animal simboliza habitualmente a natureza primitiva e instintiva do homem. O animal-demônio é um símbolo altamente expressivo deste impulso. O caráter intenso e concreto da imagem permite que o homem e relacione com ela como representativa do poder irresistível que existe dentro dele. E porque a teme procura abrandá-la através de sacrifícios e ritos”.

Assim, a profusão de símbolos animais na religião, na arte, seja através da dança, da pintura, da escultura demonstra o quanto é vital para o homem integrar em sua vida o conteúdo psíquico do símbolo, isto é, o instinto.

“Instintos reprimidos e feridos são os perigos que rondam o homem civilizado; impulsos desenfreados são os piores riscos que ameaçam o homem primitivo. Em ambos os casos o ‘animal’ encontra-se alienado da sua natureza verdadeira; e para ambos a aceitação da alma animal é a condição para alcançar a totalidade e a vida plena. O homem primitivo precisa domar o animal que há dentro dele e torná-lo útil; o homem civilizado precisa cuidar do seu eu para dele fazer um amigo”.

Carl Gustav JUNG, O Homem e seus Símbolos, p. 232.